Textos, contos, poemas e reflexões de uma mente em movimento...

As diferenças nos tornam iguais...

sábado, 30 de abril de 2011

Em nome de ...Deus?

           Em um documento publicado no ano 2000, o cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa, afirmava que as igrejas protestantes não eram verdadeiras igrejas, apenas comunidades, não podendo sequer ser chamadas de igrejas irmãs, pois isso as colocaria em pé de igualdade com a Igreja Católica.
            Desde 2006, a cidadã iraniana Sakineh Ashtiani acusada por suspeita de adultério e participação do assassinato do marido, vem sendo julgada por uma sociedade marcada por desigualdades sexuais impostas pela religião do país, que favorece os homens e põe as mulheres abaixo dos insetos.
            Em maio de 2010, uma flotilha vinda da Turquia que pretendia furar o bloqueio marítimo de Israel para levar ajuda humanitária aos palestinos da Faixa de Gaza, foi atacada pelo comando militar de israelense, mostrando, mais uma vez, que apesar de Israel ensinar às suas crianças que não devem deixar que o mundo esqueça o Holocausto, o sofrimento dos judeus parece não ter lhes ensinado nada, afinal, a única diferença entre Auschwitz e a Faixa de Gaza parece ser a câmara de gás.
            E o que esses acontecimentos têm em comum? São motivados pela fé de três religiões no mesmo deus único (cristianismo, islamismo e judaísmo) e são justificados por seus líderes como sendo feitos em nome desse deus.
            A função das religiões é contribuir para que o ser humano sinta-se bem consigo mesmo, e o papel dos líderes é garantir que isto aconteça, mas o que vemos esses líderes fazendo é exatamente o oposto do que as suas religiões pregam: abusam de crianças, exploram a fé e os bolsos de seus fiéis, estimulam a fé cega, enfim, transmitem falsas mensagens de Deus. Por mais sincera que seja a fé de uma pessoa, ela é inútil quando guiada por um líder que tenta ferir a dignidade do ser humano, seja através de sua opção sexual, crença ou etnia, mesmo que esses atos sejam apoiados por um livro sagrado. A fé, sobretudo a fé cega, não justifica crimes.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Retrato da nossa ignorância - Final...?


Meu deus é maior que o seu e somente a minha religião salva!

            O artigo 5° da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 dispõe que "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, proteção aos locais de culto e a suas liturgias.". Na teoria, tudo é muito belo, mas, na prática, um governo que se diz laico (onde não se misturam religião e política), prefere elevar as ideologias de uma determinada crença (e ser controlado por ela), permitindo o desrespeito e a violação do direito de não crer e de ter crenças diferentes.
            Não podemos dizer que é errado considerar a sua religião como a “única verdadeira”, pois cada um deve crer no que preferir. O que não pode ser aceito, é que tentem impor sua crença às pessoas que não creem no mesmo que você, pois a sociedade é formada por pessoas de diversas crenças e de nenhuma.
            Algumas pessoas desrespeitam as outras religiões em nome da sua própria e isto é inaceitável. Católicos desrespeitam judeus, que desrespeitam mulçumanos, que desrespeitam protestantes, que desrespeitam espíritas, que desrespeitam... E a lista não tem fim, mas pelo menos, não são todos os seguidores que desrespeitam as crenças diferentes, e isso já é um grande passo.
            Vários mulçumanos são vistos como terroristas, apenas por que alguns mulçumanos são terroristas, e isso se agravou após o estouro da guerra contra Muamar Kadafi; muitos crentes (que creem em algo) vêem os ateus como o que há de pior na sociedade, associando a descrença com a capacidade de cometer crimes, quando, na verdade, qualquer pessoa, independente de suas crenças, é capaz de cometer crimes, sendo que nenhum deles é feito com tanto prazer do que quando em nome de um preceito religioso!
            Algumas correntes que pregam o ‘amor ao próximo’, na verdade, reduzem o significado de ‘próximo’ ao de ‘proximidade’, ou seja, dirigem seu ‘amor ao próximo’ somente aos membros de sua congregação, criando um sólido preconceito, que é o de se dirigir as pessoas que não pertencem ao seu meio como sendo “pessoas do mundo” e culpando-as pelos males da sociedade, além de proclamar que toda e qualquer outra forma de crer está errada, e chegando até mesmo a criar tribunais para intimidar, torturar e matar quem ousar desafiar.
            No Oriente Médio, seguidores de religiões que acreditam em um mesmo deus e apenas seguem leis diferentes para chegar até Ele, e que afirmam sua raiz em um mesmo patriarca, se contradizem em não reconhecerem suas semelhanças, que, quando admitirem, poderão, finalmente, por fim na guerra bélico-religiosa fortemente apoiada e sustentada pelo Gigante do Norte.
            Será possível, que, em meio a toda essa loucura, existe alguém que é capaz de enxergar a razão? Mas, o que seria esta razão? Será possível, que ninguém perceba que todos são ateus com os deuses dos outros? E que para os seguidores de uma religião, os seguidores de uma outra são infiéis, e vice-versa?
            Tenha orgulho de crer ou de não crer em algo, mas nunca imponha o que você acredita ao o que os outros tem o direito de acreditar.

“A melhor religião é aquela que te faz melhor. O que ter faz melhor? Aquilo que te faz mais compassivo, aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... A que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião.”
                                                                                      Tenzin Gyatzo, o Dalai Lama
Moldura

            Quando decidi escrever esse texto divido em três partes, pretendia fazer um retrato do mundo onde vivo. E a forma como mostrei esse mundo, infelizmente, é real.
O ser humano, em menos de quatrocentos anos, conseguiu destruir o planeta, algo que nem os dinossauros, que viveram por muito mais tempo, conseguiram fazer. Mas, mesmo antes de aprender a destruir a Terra, já era mestre em destruir a si mesmo. O ser humano é o único ser em toda a escala animal, que faz guerras, destrói o que estiver em seu caminho, mata mas não come (exceto raras exceções) e causa segregações entre seus semelhantes. Talvez, possa-se dizer que qualquer outro ser vivo é mais civilizado do que o próprio ser humano. Mas, agora que fiz o retrato, preciso expor a moldura.
            É doloroso saber que as pessoas no Brasil não sabem utilizar corretamente o direito-obrigação de votar, elegendo candidatos preconceituosos e que abusam de certa ‘imunidade parlamentar’, como é o caso do deputado federal Jair Bolsonaro que, eu não sei por que, mas é membro da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias. Ele, em entrevista ao programa CQC, associou o fato de uma pessoa ser negra a promiscuidade, mas, em entrevistas para os jornais, afirmou ter confundido a pergunta feita pela cantora Preta Gil, que havia lhe perguntado qual seria sua atitude se um de seus filhos namorasse uma mulher negra. O deputado alegou pensar que a pergunta se referia à homossexualidade, e mostrou que não quer nada com a democracia, ao declarar “ter imunidade para falar e para roubar”, ser contra homossexuais frequentarem escolas, e afirmando que as pessoas se tornam homossexuais devido a uma má educação e a pais ausentes. Visto que muitas crianças são abandonadas ou criadas apenas pelas mães, Bolsonaro dá a entender que o Brasil é um país onde só tem gay!
            Também é doloroso ver um líder religioso e também deputado, usar a rede social twitter para postar afirmações racistas e, ainda por cima, utilizar um livro sagrado para justificar suas afirmações, como é o caso do pastor Marco Feliciano, que postou em seu twitter que “os africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé” e que “a podridão dos sentimentos homoafetivos levam ao ódio, ao crime, a rejeição”.
            Mas, não são somente eles que fazem parte dessa moldura. Qualquer pessoa que é capaz de criar preconceitos, de violar o direito de algumas pessoas existirem, de virar as costas diante do sofrimento alheio e de se considerar superior devido a diferenças sexuais, étnicas, regionais, ideológicas ou de qualquer outro tipo, faz parte dessa moldura. Portanto, como qualquer pessoa é capaz de tudo isso, todas fazem parte dessa moldura. Você que está lendo isso, as pessoas que estiverem por perto, as que estiverem distantes, as que você conhece, as que você não conhece, e até mesmo eu, fazemos parte dessa moldura.
            A moldura a que me refiro, é a estupidez humana. E dessa estupidez, todos fazemos parte. É esta condição que sustenta os preconceitos e, talvez por isso, esse retrato sempre estará incompleto.


Retrato da nossa ignorância - Parte 2


Se Deus quisesse os gays, em vez de Adão e Eva, teria feito Adão e Ivo...
           
            Em todos os lugares, o preconceito mal-disfarçado se apresenta, agredindo o direito de homens e mulheres homossexuais serem o que são. Em um momento, todos acreditamos no livre arbítrio, no outro, negamos este à pessoas que não se encaixam em ideais que muitos consideram como verdades absolutas.
            Não é dever de ninguém aceitar a orientação sexual das pessoas, mas sim, respeitar, pois todas as pessoas precisam e tem o direito de serem felizes da forma como escolherem, uma vez que a felicidade não segue receita.
            É fácil oprimir classificando como doença, rebeldia ou possessão demoníaca, pois quaisquer pessoas que se negam a aceitar o direito de individualidade justificam assim. Grupos religiosos que dizem pregar o amor reprimem com o ódio; governos eleitos que deveriam proteger a democracia e a regulamentação dos direitos, permitem que esses direitos sejam diminuídos, destruindo o direito à “igualdade”.
            ‘Doença’ é permitir a violação do direito de ser e de existir, ‘rebeldia’ é ir contra essa violação e ‘possessão’ é privar estas e todas as outras pessoas de seus direitos!
            Se você acredita que ser homossexual é pecado, deixe que os homossexuais continuem sendo, pois um livro sagrado muito conhecido diz que cada pessoa prestará contas pelos seus próprios pecados, e não pelos dos outros. Ser homossexual só é antinatural ou não, dependendo daquilo em que cada pessoa acredita, e o que cada pessoa acredita é problema dela.
            Ser homossexual não agride a vida de ninguém, as pessoas é que são agredidas por serem homossexuais.


“Eu entendo perfeitamente que uma pessoa que luta pelo que eu luto, um militante, um militante gay, se torna o alvo ou o alvo em potencial de uma pessoa que é insegura, medrosa, assustada ou muito perturbada consigo mesma.”
                                                                                          Harvey Milk

Retrato da nossa ignorância - Parte 1



            Sabe por que a parte preta do Kinder Ovo é do lado de fora? Porque se estivesse do lado de dentro, teria roubado o brinquedo!
            Sabe por que essa piada não tem graça?
            Porque ela é um dos muitos exemplos de como a discriminação e o preconceito são ensinados desde à infância, fazendo a estupidez humana se propagar como herança cultural deixada para nossos filhos e que, se continuar assim, eles ensinarão, inconscientemente, aos filhos deles. Talvez, o exemplo mais antigo seja o conceito de 'raça', usada como justificativa para vender um ser humano como se fosse um animal qualquer.
            Hitler foi idiota o suficiente para acreditar no mito da raça ariana, e, mais idiota ainda, é que ousa discriminar alguém por sua cor ou origem, pois é quase impossível, no contexto atual, encontrar uma pessoa que não veio de uma mistura, seja de cores ou regiões.
            O racista é um grande imbecil, que não percebe sua condição na Terra, de que, como ser humano, é apenas um hóspede no planeta e a qualquer momento pode deixar de morar, ignora que daqui nada se leva, e quando vai deixa para os outros. Então, porquê não deixar como herança, a consciência de que todo tipo de preconceito não passa de uma grande burrice?
            Compramos sapatos do Vietnã, comemos macarronada italiana, passeamos com um carro alemão, oramos par um Cristo judeu, calculamos com números árabes, mas o estrangeiro é apenas um intruso qualquer sem valor?
            Matar um japonês não irá garantir a sua vaga no vestibular, apenas revelará sua insegurança e ignorância.

“Não podemos caminha sozinhos. E, enquanto caminhamos,  devemos prometer que sempre marcharemos adiante. Não podemos voltar. Há quem pergunte aos devotos dos direitos civis: “Quando ficarão satisfeitos?”. Nunca!”
                                                 Martin Luther King