Textos, contos, poemas e reflexões de uma mente em movimento...

As diferenças nos tornam iguais...

domingo, 24 de outubro de 2010

O sexo dos anjos

Alguém entra em um escritório na Câmara dos Vereadores e atira no homem que ocupava o escritório. O assassino era Dan White, político conservador e adversário político da vítima, Harvey Milk, o primeiro homossexual assumido eleito para um cargo público nos Estados Unidos. Milk causou polêmica ao propor leis para a regulamentação dos direitos dos homessexuais, o que motivou seu assassinato em 1978,quando a luta por esses direitos começou a ganhar força.
Muitos grupos racistas e religiosos disseminam o ódio aos gays e pregam o banimento do homossexualismo da sociedade. Fácil entender o porquê dos grupos racistas: eles são racistas, não aceitam a diversidade. Mas, porque os grupos religiosos, cujo papel é contribuir para que o ser humano sinta-se bem consigo mesmo, se mostram incapazes de perceber e mostrar que a verdadeira abominação é um ser humano tratar o outro como lixo?
Apesar de sermos seres racionais, nós,seres humanos, nãoestamos preparados para tratar o tema da sexualidade. Falar sobre sexo, preservativos e AIDS é fácil, mas, e no que diz respeito à ideentidade sexual,sempre tratada como tabu?
"Homossexualismo é doença genética,a pessoa já nasce assim." é o que diz qualquer pessoa que nãosabe lidar com a própria sexualidade. Pessoas que se julgam no direito de impedir que duas pessoas de sexos iguais ou opostos se amem não sabem o que é o amor.
Esqueçasuaidentidade sexual, religiosa ou cultural e, apenascomo serhumano, responda: se realmente temos o livre arbítrio e Deus é Pai, qual é o sexo dos anjos?
Esta pergunta é inútil e inviável, mas, se você é capaz de se ofender com ela, há dua coisas para o qual você não está preparado (a): entrar em contato com a própria sexualidade e contribuir para a formação de umasociedade mais justa onde consciência e respeitos sejam prioridades.

sábado, 23 de outubro de 2010

Entre aranhas e ouriços

Imagine um grupo de ouriços tentando proteger-se do frio. Para aquecerem-se, eles agrupam-se em circulo; se ficarem muito próximos, podem machucar-se uns aos outros e, para que isso não aconteça, precisam encontrar uma distância em que possam aquecer-se sem machucarem-se. Esta distância chama-se “civilidade” e corresponde ao conjunto de regras para viver em sociedade.
A sociedade é uma teia constituída por essas regras, tecidas pelas “aranhas instituições”. Se um indivíduo transgride uma regra de alguma “aranha”, ou seja, tenta “sair da teia”, será perseguida, excluída por uma ou mais “aranhas”. Dessa forma, não pode-se falar em uma liberdade verdadeira, mas sim em uma liberdade controlada, com o intuito de proteger o ser humano, mas que acaba por inibi-lo.
Nas sociedades é comum um indivíduo só ser reconhecido como membro da comunidade após cumprir os ritos de passagem, como o batismo e o casamento; qualquer comportamento fora dos protocolos estabelecidos pelos ritos das instituições (família, religião, governo) é vista como imoral, podendo gerar tabus, fortemente malvistos pelas instituições: educação sexual,aborto, células-tronco embrionárias, homossexualismo...
Muitas vezes egocêntricas e preocupadas apenas com seu lucro pessoal, as instituições se permitem “sair da teia”, evidenciando que quando dizem “Vinde a nós os necessitados”, na verdade querem dizer “Vinde a nós os que seguirem nossas regras, os necessitados que se danem”. Este é um comportamento que, definitivamente e, infelizmente, deixa bem claro que não existem livre-arbítrio e liberdade de expressão, existindo apenas o “faça o que quiser, mas dentro das nossas regras”, essa semente da hipocrisia.
No reino animal, o ouriço ganharia uma luta contra uma aranha. Na sociedade humana, ocorre o contrário. Deve ser efeito do veneno.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ecce, puer satanae qui venit peccata mundi*

Política, intolerância religiosa, homofobia, aborto. Enfim, um caldeirão de intrigas em nome do voto do eleitor brasileiro neste segundo turno.
De um lado, Dilma Roussef, candidata do PT à presidência da República, que aprova o aborto como liberdade fundamental da mulher e apoia direitos dos homossexuais, como o casamento gay. Do outro lado, temos José Serra, candidato do PSDB, que se pôs, junto com sua esposa Mônica Serra e seu vice, Índio da Costa, a fazer campanha com grupos evangélicos, dizendo que Dilma é "a favor de matar criancinhas" e que se fosse eleita, legitimaria o aborto e o homossexualismo, afirmações que causaram medo, sobretudo, aos vários grupos religiosos católicos e protestantes.
O bispo de Guarulhos, Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, declarou publicamente ter "ódio ao PT" e distribuiu em sua diocese o Manifesto anti-PT, que afirma ser a posição oficial da Igreja Católica, embora a CNBB tenha declarado que somente a Assembleia Geral e o Conselho Permanente tem o direito de falar em nome da ICAR. Em uma pregação, Dom Luiz Gonzaga diz que "votar em Dilma é pecado" e ressaltou ideia de que há um envolvimento do vice de Dilma, Michel Temer, com o satanismo. O site Hospital da Alma, ligado a uma associação de blogueiros evangélicos, chegou a dizer que se Dilma ganhar, morrerá por obra de Satanás para que Temer (o diabo) possa governar.
Com todos esses acontecimentos e declarações, que são na verdade um péssimo e indevido mal uso da liberdade de expressão, a principal consequência é a indução ao erro de pessoas menos escolarizadas, aproveitando-se da boa fé deles através de uma mistura de verdades e mentiras sensacionalistas com algumas gotas de preconceitos comuns, usando como receita secreta a religião, pois sabe-se muito bem o sincretismo religioso no qual o Brasil está envolvido, em meio a concentração de adeptos de praticamente toda as religiões do planeta em um único país, assim como a evidente intolerância entre católicos e evangélicos, evangélicos e espíritas, entre muitos outros exemplos que deixam cada vez mais claro que ninguém sabe amar seu próximo como a si mesmo.
Karl Marx dizia que "a religião é o ópio do povo, no entanto, Marx esta errado, pois a religião não é o ópio, mas sim o incendiário: ninguém faz o mal contra teu próximo com tanta convicção e prazer como quando o faz usando a religião como desculpa. E é aí onde a fraqueza do ser humano diante de si mesmo se mostra mais evidente, cria crenças e impõe a intolerância e a exclusão àqueles que não as aceitarem.
Já está provado que misturar política e religião é uma combinação desastrosa: isto já causou violentas batalha contra os mulçumanos (as Cruzadas),instaurou inquéritos contra não-cristãos e praticantes de filosofias pagãs (Tribunal do Santo Ofício, ou Inquisição), dividiu o cristianismo e ajudou aumentar a intolerância religiosa (Reforma e Contra-Reforma), chegando aos dias atuais como uma bomba sempre prestes a explodir. Então, porque continuar com toda esta guerra sem razão, toda esta realidade morta?
Isto é uma disputa por votos. Não há porque colocar a religião e as diferentes crenças no centro da questão, pois isso só mostra o quanto a sociedade, tanto os mais pobres quanto os mais ricos, estão despreparados para para ajudar na construção de uma sociedade mais justa, onde o respeito e a consciência sejam prioridades.
Esta é uma disputa de seres humanos pelo poder, não tem nada haver com Jeová, Exu, Nossa Senhora, Satanás ou Curupira. São apenas dois lados humanos que, como uma crianças de uns três anos que ainda estão aprendendo a ler e escrever, ávidas por atenção, dizem: "querem, por favor, me entenderem?".


*Em latim, significa :Vejam, o filho do demônio, que manifesta o pecado do mundo.